segunda-feira, 3 de junho de 2013

RECORDAR É VIVER


A leitura e a escrita em minha vida deu-se de modo muito simples e bastante cedo. Adorava folhear todos os livrinhos que caíam em minhas mãos. Inicialmente, contentava-me em observar as imagens e à partir daí, minha imaginação falava mais alto. Criava através destas, a minha história imaginária. Gostava de dar rumo à vida das personagens e é claro que, como menina pequena e sonhadora que era, só criava finais felizes, como eu achava que sempre deveriam ser. Irritava-me com algumas histórias que nem sempre tinham o final que eu imaginava. Daí dizia logo que não havia gostado da história. Lembro-me nitidamente de uma coleção maravilhosa de contos que ganhei de meu pai. Naquela época não tínhamos tão fácil acesso aos livros e as vendas ocorriam também, através de mascates. Bendito mascate! Não deixei que fosse embora com aqueles livros lindos, os quais me impressionaram pela beleza das capas. Nesta época eu já sabia ler e convenci meu pai a comprá-los para mim. A coleção era composta aproximadamente por sete ou oito livros, que li e guardei até os meus vinte e poucos anos, quando então, resolvi doá-los, mas os tenho em mente fresquinhos e coloridos, como hão de estar sempre em minha memória.
Minha experiência literária durante o ensino fundamental não foi muito relevante. Lembro-me de ter lido apenas dois livros. Um deles, "A ilha perdida", que continua sendo uma leitura comum nas escolas, pois meu filho leu este bimestre. O outro, "Meu pé de laranja lima", solicitado por um professor pelo qual, tenho carinho especial. Era muito calmo, bondoso e tolerante. Virtudes estas, talvez, em razão de ter sido padre. Seu conhecimento de mundo era abrangente e seus ensinamentos não se restringiam apenas à lousa e ao caderno. O livro conta-nos a história de um menino pobre, que era traquina e muito sedento de carinho, pois sua mãe era ausente por ter que trabalhar para ajudar no sustento da família. Assim, transformou a pequena árvore que encontrou no quintal de casa em amiga e confidente e com a qual compartilhava seus conflitos. Após muito tempo (já lecionando e aplicando minha vivência de mundo), compreendi que meu professor aproveitara a situação para nos ensinar também, sobre os verdadeiros valores da vida. Reencontrei-o um dia no supermercado. Que felicidade! Parecia que me transportara por alguns segundos para dentro da sala de aula, especificamente onde estudara a 6ª série. Exclamei um "professor" longo e dei-lhe um abraço apertado. Talvez ele nem tenha entendido muito bem a minha reação, tamanha a minha alegria. Não importa! Para mim, bastou a boa sensação de rever alguém que de alguma forma marcou a minha vida. Graças a Deus, ainda vive e vejo-o algumas vezes na Catedral de São Miguel Paulista,  às missas de domingo. Meu coração se alegra muito, mas contento-me em observá-lo de longe.
A marca que algumas leituras deixam em nossas vidas, acredito que se deva principalmente, ao momento em que são realizadas e pela vivência de mundo que se tem. Vivi isso no ensino médio, pois minha professora sempre iniciava a aula com a leitura de um capítulo de um livro. "O pequeno príncipe" marcou esta passagem. Reli-o muito mais tarde, mas não provocou as mesmas sensações que outrora. Realizo hoje como parte integrante de minha atuação em sala de aula, a leitura de textos motivadores que despertem o interesse dos alunos e faça-os refletir, tal qual minha professora fazia. Lembro-me que eram momentos de puro prazer e que envolvia a todos os alunos.
Recordo-me bem, que esta mesma professora, depois de já ter solicitado a leitura de alguns clássicos da literatura, indicou "Dom Casmurro". Que acalorado debate houve entre nós! Cada um defendendo o seu ponto de vista com garra. Talvez este tenha sido o primeiro grande momento de minha vida em que eu realmente lutei em defesa da minha opinião. Vi-me diante de ideias contrárias e eu lá fazendo por onde convencer os colegas do meu ponto de vista. Não chegamos a um consenso, mas a  experiência do primeiro debate foi inesquecível.
Minha mais expressiva lembrança de escrita se deve a um bloquinho de capa florida que possuía e onde reunia versinhos criados com a singeleza do espírito infantojuvenil. Ainda hoje é meu gênero textual predileto. Sabem, este relato fez-me relembrar até o cheiro da biblioteca da faculdade onde estudei. Sempre que possível, subia aquelas escadinhas de madeira que davam acesso às estantes superiores e de onde tinha visão geral do local. Era meu cantinho predileto de leitura. Sentava-me no chão e deliciava-me entre tantos livros. Por um momento me senti alhures, exatamente lá, no meu cantinho. Um cantinho especial!

Abraços,

Margarete


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